O Anti-Cristo!

Postando minhas idéias e opiniões sobre a vida, a arte, e sobre o que mais der vontade!

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terça-feira, 17 de junho de 2008

Cinza

Juan não agüentava ver as ruas da linda Paris tão cinzas. "Somente os apaixonados conseguem ver as belas cores", ouvia a voz dentro de sua cabeça que ele se preocupava em anotar tudo que ela dizia. Juan passava algumas horas do seu dia analisando o Moulin Rouge para tentar enxergar um leve tom do lindo vermelho, mas tudo que via era cinza, nem o verde daquele gramado na frente da Torre.

É claro que foi ao médico assim que notou essa alteração em sua visão. Não, Juan não notou no primeiro dia e sim após um mês. Estava muito ocupado tentando escrever poemas românticos. Por esse exato motivo se mudara para a 'cidade dos apaixonados'. O médico disse que ele não tinha problema algum na visão e sim no coração, pois todos sabiam muito bem que Juan estava vivendo sozinho a muito tempo.

Mas o adorável Juan simplesmente não mais sentia vontade de ter alguém. É verdade que ele tentara com Paola na infância, depois com Brian na juventude e por fim Sophie com quem se casou, mas jamais quis filhos. Pensava se esse talvez fosse o motivo pelo qual ela o abandonara dezenove meses e três dias atrás. Dias contados com uma frieza estranha, no início, até as horas o coitado acompanhava.

Depois do término do casamento de dezenove dias depois da lua-de-mel no Brasil, um país que incomodaria Juan por tanta desorganização, mas ele estava apaixonado. E quando ele está apaixonado acharia beleza até numa merda de cachorro no meio da Avenida Atlântica. Mas a verdade é que ele não suportava estar assim, sentia-se um idiota, sem parâmetros, sem gosto, sem rumo.

A verdade é que depois que saiu do médico naquele dia de sol quente, Juan pensou na vida e quando chegou em seu apartamento fez as malas e, como de costume, foi embora de Paris sem despedir-se de ninguém. Não que fizesse por mal, mas simplesmente detestava despedidas. Mudou-se para o sul da Escócia e voltou a ver todos os verdes, vermelhos, amarelos e azuis que se era possível ver. Juan notou que o problema não era seu coração e sim as cidades. As cores das cidades só são vistas pelos que chegaram agora, depois é tudo cinza.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Joelho

Eu: me dá o mais amassadinho, mais fininho porque, sabe como é, a massa de vocês deve ter mudado porque ta muito massudo ultimamente.

Dono da lanchonete: é... Talvez tenha acontecido alguma mudança, mas vou avisar e eles alterarão-na... Obrigado pela observação!

Eu: Denada.

Dias depois voltei lá pra comprar outro joelho.

Eu: Nossa! Voltou pra antiga receita?

Dono da lanchonete: mais é claro! Sua observação foi de suma importância, os lucros estão aumentando.

Eu: Que bom.

Aí peguei a embalagem pra viagem (como sempre) e fui pra loja. Notei que o joelho estava realmente com a massa mais leve, mais porque estava quente... o da semana passada estava frio...

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Culpa

Não mais veria a luz. Mas só por culpa da maldita faca. Tinha uma faca no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma faca. Mas de nada adianta lamentar-se, o sangue já foi derramado, o culpado não tem culpa, mas é verdade que foi ele mesmo que cometeu o crime. Talvez não deva dizer que cometeu um crime, ele só seguiu o coração ou instinto. Mas crime mesmo não, definitivamente não.

A sociedade discrimina qualquer ser que tenha feito algum crime. Perdoem-lhes, eles não sabem o que fazem. Quem pode dizer que não cometeria o mesmo crime? É aquele tipo de coisa que só vivendo. Eles dizem que jamais matariam, exceto se fizessem algo grave com seus filhos ou alguém muito querido, ou seja, eles matariam sim. Talvez não se formos considerar a fraqueza no coração humano.

Mais o importante é que ele não mais veria a luz. A luz que refletida nos longos cabelos dela deixavam seus olhos ardendo, o sol que queimava a pele branca aveludada ou cremosa talvez, a luz que ele diminuía quando ela o chamava mais cedo pra cama. E a luz, ele não veria mais. E talvez esse fosse o maior sofrimento, pois a única pessoa que lhe era cara, fora retirada dele, pelas próprias mãos do infeliz.

Não o culpem! Dizem que não devemos julgar, mas certamente você julga tudo e todos e o tempo todo. Por que não são vistos os outros lados da história? Porque o que nos importa é o que mais nos agrada. Ser justo num mundo em mutação, onde ontem não se podia fumar, hoje já pode. Onde a paz nunca parece ter existido, logo se não existe, porque vivemos a sua busca? A paz no mundo é tão viável quanto ouvir Deus numa oração na beirada da cama.

A faca estava no meio de seu caminho, no meio do seu caminho tinha uma faca. Tão feliz por ter sido demitido naquele mesmo dia, ele pegou a faca reluzente a luz do sol que queima a pele branca aveludada ou cremosa, e entrou em casa louco pra abraçar sua amada e devolver-lhe o objeto pontiagudo que estava em seu caminho. Mas ela não estava na cozinha assando um delicioso bolo de milho para o café da tarde, nem no banheiro ou na sala vendo TV. Era no quarto que ela estava, onde pouco ficava e nada teria para fazer ali sozinha.

Se uma pessoa tem vontade de ficar num quarto, sem nada pra fazer, só olhando pro teto e talvez nem pensando nada, o que tem demais nisso? Mais uma vez as regras, regras essas que por alguém foram criadas, seriam elas criadas pelo todo-poderoso Deus do céu e da terra, aquele mesmo Deus cruel que por estar descontente com seus filhos, afogou-os com um maremoto criado por seus poderes. Por que não prender Deus? Ele pecou segundo suas próprias leis, é controverso e cheio de si. Deus está morto, como já disse Nietzsche. Se interviu em algum assunto terreno foi no tempo em que não se sabia registrar um acontecimento, provavelmente quando os dinossauros aqui viviam.

Por alguns segundos amedrontou-se, teve pavor do que pudesse encontrar naquele quarto. Mas o amor e as lembranças deles juntos o aliviaram e sem medo algum adentrou seu quarto onde esperava encontrá-la, mas ela não estava ali. O silêncio estava em toda parte, menos dentro da cabeça dele. Mil vozes falavam mil coisas até perceber que o silêncio havia sido quebrado. Eram gemidos que ele ouvia, gemidos dela! Todo aquele som o encheu de raiva e tristeza, lembrava dos longos cabelos que refletiam a luz que ardia seus olhos. Tomado de uma personalidade ou espírito que não lhe pertencia, desceu as escadas até o porão e assassinou sua amada, pois a mais ninguém, ela poderia pertencer.

A vida tem dessas coisas, tudo que encontramos no nosso caminho e tudo que nos rodeia tem alguma influência sobre você. Mesmo que esteja ali somente por acaso, pois o acaso existe. Foi o acaso que fez ela esquecer a faca que havia pegado para cortar um pedaço da corda onde estendia suas roupas em cima do muro, no caminho dele. A mesma faca que a matou e que não a mataria se estivesse na gaveta da cozinha como de costume. Ele teria tempo de entender o que acontecia e não julgar e deixar-se levar pela raiva ou até pelo medo.

Nunca irá esquecer os olhos cheios de lágrima dela amordaçada, com uma mordaça que não havia visto antes. O homem, o demônio encarnado, fugiu pela porta que entrou e nunca foi encontrado, pois nem foi procurado. Quando ele viu que tudo a sua volta indicava um estupro pensou em suicídio, mas achou que merecia ser castigado e o suicídio nesse momento seria um alívio. Ligou pra polícia e disse que havia assassinado um pedaço do seu coração que jamais se regeneraria. O julgamento foi rápido, ele não comentou sobre o outro homem ou sobre o óbvio estupro, merecia o castigo. E assim foi feito, ele não mais viu a luz, pois no meio do seu caminho tinha uma faca, tinha uma faca no meio do caminho.